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HORIZONTES: DISTRITO FEDERAL

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Para entender as manifestações musicais do Distrito Federal é necessário, antes, voltar à fundação de Brasília e compreender sua formação. A cidade foi construída como reflexo do pensamento desenvolvimentista de Juscelino Kubistchek, que lançou em seu governo o programa “50 anos em 5”, um plano de metas voltado à industrialização e à modernização do país. Dois dos ideais embutidos nesse plano eram a expansão da população brasileira em áreas afastadas do litoral (atribuindo, dentro deste viés, a ampliação de estradas), e a construção de uma nova capital federal. O começo das obras de Brasília ocorreu em 1956, trazendo consigo profissionais de diversas regiões do país: os “candangos” – trabalhadores da construção. Em sua maioria, eram oriundos da região nordeste, o que futuramente seria um determinante para as manifestações culturais de Brasília. A construção terminou em 1960 e foi considerada um dos principais trabalhos dos arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. A cidade se tornou um símbolo nacionalista e modernista totalmente vinculada à imagem do próprio presidente, apesar de ter custado um grande empréstimo do FMI, o aumento da inflação e do custo de vida para a população brasileira.

Nos primeiros anos de povoamento da cidade e de suas cidades satélites, as primeiras manifestações culturais começaram a “pipocar”. Os locais mais afastados de Brasília tendem a fazer parte de um imaginário que inclui a população menos abastada da região. Nesse sentido, famílias que vinham do Nordeste, por exemplo, manifestam suas tradições com músicas voltadas ao sertão. Assim, o surgimento e a propagação do baião, forró e coco acabam sendo inevitáveis. Em um futuro não muito distante, essa região vira lar de jovens que se expressam através do hip hop e de outros gêneros musicais voltados à resistência e luta preta.

A Universidade de Brasília e o oferecimento de ensino do Departamento de Música (inaugurado em 1963) foram, também, de grande contribuição para a linguagem cultural musical da região. Ela representou fortemente a criação de novas formas, composições e interpretações voltadas ao fazer musical. Tanto no âmbito popular como no erudito, a escola de música foi precursora em muitos aspectos voltados à experimentação sonora ligada à música concreta, e, futuramente, à música eletrônica.

No entanto, fazer conteúdo engajado no final da década de 60 e início da década de 70 não era tarefa tão simples. Isso porque a censura da ditadura militar representou uma forte represália das forças do Estado contra a produção universitária e ou alternativa. A criação de festivais universitários de divulgação artística fez a cidade progredir como lugar representante na luta cultural, na negação da censura, e muitas vezes na negação do capitalismo e suas representações.

Em 1977 foi criado o Clube do Choro de Brasília, um dos maiores patrimônios da cidade. O choro, trazido por músicos que se mudaram para a nova capital, começou a se proliferar fortemente, ocasionando na forte cultura de se tocar choro até mesmo entre os jovens de hoje em dia.

A década de 80 foi a que ofereceu mais atenção à manifestação musical da cidade. Inúmeros grupos e bandas independentes de Rock fazem parte do imaginário principal do Rock Nacional. Bandas como Legião Urbana, Ultraje a Rigor e Capital Inicial são oriundas de Brasília. Em um caminho contrário à tradição, encaixam-se aqueles que cultivavam fortemente aspectos da cultura preta. O soul, o break, o funk e o hip hop fazem parte das periferias, mas não receberam o mesmo destaque que o rock.

A década de 1990, já em um contexto de final da ditadura, representa uma abertura muito grande da cultura geral, um movimento nacional. Brasília já foi, por si só, desde seu primórdio, um misto muito significativo de pessoas e costumes. Nesse momento de maior experimentação e liberdade das novas gerações, é oficializada a noção de que a cidade é um patrimônio importante culturalmente. Nas décadas seguintes, chegando nos tempos atuais, Brasília ainda não recebe a atenção que o Sudeste recebe, o que faz com que muitos músicos e artistas dessa região se mudem para o eixo Rio-São Paulo. A verdade é que, no imaginário popular, essa parte do Brasil representa apenas a política e o jornalismo, ocasionando, inclusive, a pouca visibilidade em termos de acessos e redes dos profissionais dessa localidade.

Hoje, não são poucos os artistas independentes brasilienses que ainda habitam a cidade. Apesar desse movimento de imigração para cidades com mais oportunidades ser muito comum, quando se faz um recorte mais específico da classe trabalhadora musical, é comum achar muitos representantes de gêneros variados. O samba, a música africana, o reggae, o rap, a música eletrônica e a erudita estão circulando dentro da cidade e de seus satélites vizinhos.

Referências:

ALVES, Lara Moreira. A construção de Brasília: uma contradição entre utopia e realidade. Disponível em: <https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/brasilia/arquivos/LaraALVES-AconstrucaodeBrasilia.pdf> Acesso em: 8 de abr. de 2021

GOMES, Jéssica de Amorim. Música urbana: ascensão do rock Brasiliense na década de 80. 2016. 54f. Trabalho de Conclusão de Curso. Instituto de Ciências Humanas de Brasília. Universidade de Brasília, Brasília, 2016.

Governo do Distrito Federal. História. <http://www.df.gov.br/historia/> Acesso em: 8 de abr. 2021

KUBITSCHEK, Juscelino. Porque construí Brasília. Brasília, Senado Federal, Conselho Editorial, 2000.

PAIXÃO, Ítalo Barreto. A música Brasiliense como expressão na ditadura militar. 2018. 23f. Trabalho de Conclusão de Curso. Faculdade de Tecnologia e Ciências Sociais Aplicadas. Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2018.

PEREIRA, Erika Ruas. A trajetória do clube do choro de Brasília. 2004. 42f. Monografia. Centro de Excelência em Turismo. Universidade de Brasília, Brasília, 2004.

 

Bibi Rossini

Integrante da AH!BANDA - Núcleo 1

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