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DIÁSPORAS: VENEZUELA

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Frame retirado de vídeo do grupo Las Orquídeas (Canal Las Orquídeas TV - YouTube)

Em nosso segundo ponto de investigação na trajetória diaspórica vamos nos dedicar a Venezuela, país marcado por uma história de lutas, crises, conflitos e contradições, mas também pela resistência de seus povos originários e dos ideias de Simón Bolívar, que ecoaram no século XIX e continuam ecoando. 

 

Originalmente território habitado por povos/sociedades indígenas tradicionais como os Walimanai, os Baré e os Acauayo, A Venezuela sofreu um brutal  processo de colonização por parte da metrópole espanhola, marcado pelo extermínio de parte da sua população originária/indígena, mas também por sua resistência ao domínio colonial/europeu, e pelo tráfico de pessoas em África como mão de obra-escravizada. O início do processo de independência do país se dá em 1810, com o movimento liderado por Simón Bolívar e Francisco de Paula Santander. A proclamação da independência  acontece em 5 de julho de 1811 e em 1821 o país passa a integrar a chamada “República da Grã-Colômbia”,  extinto país que compreendia os territórios da Colômbia, Equador, Panamá, Venezuela e outros países sul-americanos. Contudo, com a morte de Bolívar em 1830, A Venezuela retira-se da República da Grã-Colômbia e a segunda metade do século XIX é marcada por disputas oligárquicas entre as elites venezuelanas pela disputa pelo  poder político-econômico do país.

 

Se o século XIX é marcado pela influência dos ideias de Bolívar, a luta contra o domínio colonial espanhol e a consolidação das oligarquias nacionais, no século XX predomina o início da exploração das enormes reservas de petróleo presentes no território venezuelano, 17,5% do petróleo mundial (ZERO, 2017), e a consolidação do estado nacional venezuelano, processo atrelado ao acirramento da dependência político-econômica do país a venda do petróleo enquanto commodity e aos interesses dos Estados Unidos da América, que já despontavam como nova potência mundial. A influência dos interesses estadunidenses na Venezuela se deu, no plano da política interna, com a consolidação do “Pacto do Punto Fijo”, em 1957 que de maneira similar a “política do café com leite” brasileira, promoveu a manutenção do poder das oligarquias conservadoras no poder político do país, e no campo da política externa com a chamada “Doutrina Bittencourt”, responsável pelo “isolacionismo dependente” (ZERO, 2017) venezuelano, subordinado aos interesses estadunidenses e que excluía a integração entre países latino-americanos, inclusive países que também eram alinhados às políticas estadunidenses, como era o caso do Brasil governado pela ditadura empresarial-militar, e que só começaria a ser revisto nos anos de 1980.

 

A forte dependência político-econômica aos interesses estadunidenses, apesar de fundamental no processo de consolidação do estado nacional venezuelano, não se refletiu em mudanças estruturais na sociedade venezuelana. Na verdade, grande parte das mazelas sociais e da desigualdade no país se acirram gravemente durante praticamente todo o século XX. Marcelo Zero aponta que a estrutura social da Venezuela durante esse período era marcada por altos índices de pobreza, desigualdade social e crises de saúde e educação. (ZERO, 2017). O modelo político econômico, baseado na dependência cujos símbolos são o Pacto do Punto Fijo e a Doutrina Bittencourt entra em crise nos anos 1980 e 1990, período marcado por grandes convulsões sociais e manifestações populares. A mais conhecida destas manifestações, aconteceu em 1989 e ficou conhecida como o “Caracazo”, levante popular que foi brutalmente reprimido pelo governo conservador da época e cujas estimativas de mortos ficam entre 1.000 e 3.000 pessoas (ZERO, 2017).

 

As crises dos anos 1980 e 1990 alinhadas a crescente movimentação popular no país levam a eleição  de Hugo Chávez à presidência da Venezuela em 1998, acontecimento que marca o ínicio de um processo de guinada política no país que ficou conhecido como “Revolução Bolivariana”, uma menção explícita às lutas e ideias de Simón Bolívar. Marcelo Zero aponta:

Embora o chavismo não tenha alterado, de forma significativa, a estrutura produtiva da Venezuela, que permaneceu estreitamente dependente das exportações do petróleo, Chávez implodiu as arcaicas estruturas sociais e políticas da Venezuela, bem como a política externa de alinhamento automático aos EUA. (ZERO, 2017)

Em um processo que de forma alguma é isento de problemas, conflitos e contradições, o movimento iniciado por Chávez em 1998 contribuiu para mudanças significativas no tecido social venezuelano, com uma melhora nos índices de pobreza e desigualdade social, educação e saúde e de participação democrática se comparados ao o período imediatamente anterior. No campo da educação, cultura e artes, podemos destacar, por exemplo, a criação da “Universidad Nacional Experimental de las Artes” em 2008 e o compromisso ao empoderamento dos povos indígenas originários, expresso na constituição do país em 1999 (CANDELARIA, 2019). Porém, acontecimentos como o golpe militar de 2002 com a tentativa de retirada de Chávez da presidência e a crise do petróleo conhecida como “Paro  Petrolero” levaram a uma radicalização política no país e que possui paralelos com a atual crise enfrentada.

 

Com a morte de Chávez em 2013, a presidência do país é assumida por Nicolás Maduro, em processo eleitoral que acirra ainda mais o descontentamento das oligarquias venezuelas. Em 2014 o país começa a ser engolido por uma grave crise político-econômica, principal fator determinante do grande fluxo diaspórico do povo venezuelano enfrentado atualmente. São muitas as variáveis que influenciam a atual crise na Venezuela. De maneira central, podemos apontar para a forte dependência  econômica venezuelana a exportação de petróleo, o processo de radicalização política  da oposição oligárquica que acontece no pós 2013, os erros de condução político-econômica do governo Maduro e uma guerra econômica com interesses internacionais pautada pelo desabastecimento programado de bens essenciais; a inflação induzida, o boicote a bens de primeira necessidade;  o embargo comercial e o bloqueio financeiro internacional. (ZERO, 2017). 

 

Dentro do movimento diaspórico venezuelano, o Brasil tem sido um dos países com maior presença de refugiados venezuelanos. Em 2016, segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), mais de 30 mil venezuelanos solicitaram refúgio no Brasil. Esse aumento na presença de refugiados venezuelanos, principalmente em estados do norte do país, como Roraima, infelizmente tem sido acompanhada por um aumento de manifestações xenófobas e racistas e agravamento das desigualdades econômicas e sociais em municípios e estados brasileiros, especialmente no contexto do recente avanço de políticas conservadoras de extrema-direita em território nacional (MILESI et al. 2018).

 

Como foi apontado na nossa investigação da diáspora e resistências haitianas, um forte marcador da lutas e identidades venezuelanas se expressa através das manifestações sonoro-musicais de suas populações. Viva o povo venezuelano e as lutas latino-americanas!

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A Venezuela é permeada por uma miríade de culturas musicais que certamente faz parte integral das múltiplas identidades do povo venezuelano  dentro e fora de seus movimentos diaspóricos. Muitas dessas culturas musicais estão profundamente relacionadas a povos, tradições e regiões específicas dentro do território do país. É o caso do Chimbagüele [VÍDEO 1], representativo  do âmbito das culturas musicais de tradição afro-venezuelana e de forte identificação com a região do Lago de Maracaibo, zona de forte extração petroleira, e de populações como os Palmarito.

​​​​​​Outras culturas musicais, historicamente relacionadas às tradições crioulas na Venezuela, ao longo do século XX foram alçadas em movimento capitaneado pelas “elites intelectuais” do país, ao status de representantes da cultura musical nacional.  Esse processo  guarda algumas semelhanças com o caso brasileiro e com o desenvolvimento histórico-musical do Haiti. É o caso do que se convencionou chamar de Musica llanera, da região dos Llanos, como a Tonada [VÍDEO 2] e o Joropo [VÍDEO 3]. Um representante mór da Musica Llanera é o cantor e compositor Simón Díaz. 

Já culturas musicais como o Calipso [VÍDEO 4], da região de El Callao, município de tradição econômica relacionada a extração de minérios, e a Onda Nueva [VÍDEO 5], gênero praticamente inventado pelo compositor e pianista Aldemaro Romero, explicitam as relações conflituosas  que caracterizam o fluxo diaspórico entre culturas musicais e classes sociais dentro de um sistema-mundo economicamente desigual. No caso do Calipso, temos a relação entre as culturas musicais venezuelanas e a música caribenha. Já com a Onda Nueva, as semelhanças com o Jazz, a Bossa Nova e a chamada MPB dos anos 1960 é notável.

No último vídeo da playlist [VÍDEO 6], nosso ponto de chegada na investigação das diásporas e culturas musicais venezuelanas. AH! Banda interpreta “Tonada del Cabrestero” do Cantor e compositor Simón Díaz, uma das grandes figuras da Música Llanera Venezuelana.

Referências:

BARRETO, Sofia. Venezuelan Carnival songs: Singing Calipso in El Callao. The World of Music. Vol 50, n.1, p.63-71, 2008.


BOTTARO, Francisco. Música Popular y Clases sociales; el caso venezolano: Años 40. Caravelle. N.62, p.159-170, 1995

CANDELARIA, Lisbet Rodríguez. Conheça a política de empoderamento dos povos indígenas venezuelanos. Disponível em:     https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/direitos-humanos/62030/conheca-a-politica-de-empoderamento-dos-povos-indigenas-venezuelanos

 

CLACSO, Tradiciones musicales e identidad nuestroamericana . Disponível em: https://www.clacso.org/tradiciones-musicales-e-identidad-nuestroamericana/#.XxiSKFpWKz4.facebook 

 

MANOEL, Jones: A questão da Venezuela: a história fora do mito. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6UhKXiE_NJc

 

_____________: O que é bolivarianismo: Ep.4 Dúvidas Básicas. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QL_tW8ivbTQ

 

MILESI, Rosita et al.: Migração venezuela ao Brasil: discurso político e xenofobia no contexto atual. Aedos, Porto Alegre, v.10, p.53-70, ago.2018.

 

ZERO, Marcelo. Para entender a Venezuela. Disponível em: http://iela.ufsc.br/noticia/para-entender-venezuela

 

​​​​Pedro Fadel

Bolsista PROATEC

Simón Díaz y Luis Mariano - El Mango
05:01

Simón Díaz y Luis Mariano - El Mango

El Mango: "La canción de Luis Mariano". Este video es la continuación de la publicación anterior, data también del año 2000, y en donde Simón Díaz y Luis Mariano Rivera (+) (autor de la canción) interpretan el tema "El Mango", los acompaña Gualberto Ibarreto con su cuatro. El escenario se presenta en el conuco de Luis Mariano Rivera (+) ubicado en la población de Carúpano, estado Sucre, Venezuela. Pocos poetas y músicos populares han tenido el privilegio de ser reconocido por mucha gente, las instituciones regionales y nacionales, y estos tres exponentes de la música tradicional y popular venezolana lo lograron. El video es cortesía de la empresa audiovisual Cinesa, de la cual extrajimos el fragmento correspondiente al tema de la canción. Dicho video fue transmitido por el canal de televisión venezolano Televen, en el programa de "Simón Díaz Cuenta y Canta" en ese mismo año 2000. Venezuela siempre puede florecer cuando hay un Luis Mariano que la ame. Como cantaba Alí Primera: La canción de Luis Mariano es canción de la esperanza... La edición y publicación de este video es otro homenaje que hacemos a la memoria de Luis Mariano Rivera (+) quien el pasado 19 de agosto cumplía 107 años desde su fecha de nacimiento, Nació el 19 de agosto de 1906 y falleció el 15 de marzo de 2002 a la edad de 95 años y 7 meses, tuvo la dicha de vivir casi un siglo, y prácticamente el siglo 20. Accede directamente a la VIDEOTECA de nuestro canal haciendo clic en: http://www.youtube.com/user/BiografiaenCancion/videos
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