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DIÁSPORAS: HAITI

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Fotografia de Dieu Nalio Chery (CBS NEWS)

Iniciamos a nossa trajetória diaspórica saudando a história, as lutas e a cultura do povo Haitiano, protagonistas da revolução que abalou o mundo nos séculos XVIII e XIX, proclamando em 1804 a criação da República do Haiti, primeira república negra do mundo, primeiro país latino americano a declarar sua independência e a abolir o sistema escravista no continente americano.

Liderados por figuras como Toussaint L'Ouverture e Jean Jacques Dessalines, os revolucionários haitianos, os Jacobinos Negros, como nos conta o historiador C.L.R. James, derrotaram não só os colonialistas franceses, as forças de Napoleão Bonaparte, mas também venceram os exércitos ingleses e espanhóis, conquistando sua independência e afirmando, no artigo 14 da constituição original do país que “a partir de hoje,  somos todos negros”.

A vitória dos Jacobinos Negros, infelizmente, foi seguida por interferências externas e disputas internas responsáveis, em grande parte, pelos problemas que o país enfrenta até hoje. Em 1825, a república haitiana foi obrigada a pagar uma multa a França, em um valor que atualmente equivaleria a quantia de 21 milhões de dólares. Um povo “multado” pela luta por sua liberdade. Os impactos econômicos decorrentes dessa multa, somados a interferência de países como os EUA, que apoiou regimes ditatoriais no Haiti como o de Papa Doc, implementado em 1957 e que durou até 1971, e desastres naturais como o terremoto de 2010, (o Brasil tem um papel altamente violento e questionável na história haitiana recente, relacionado às ocupações no país pós-terremoto de 2010), provocou um grande movimento  migratório da população haitiana, que busca, em países como Brasil, perspectivas de vida melhores do que aquelas encontradas na pequena ilha caribenha.

Sobre algumas das dificuldades que as(os) imigrantes haitianos enfrentam no Brasil, o etnomusicólogo Caetano Maschio Santos nos aponta que: “[...] imigrantes negros como os haitianos se defrontam pela primeira vez (em sua maioria) como sujeitos racializados. Encontram [...] um Brasil diferente daquele imaginado ou conhecido através dos meios de comunicação.”.

Mesmo em face da violência sistemática e do racismo, o povo haitiano continua e continuará afirmando sua humanidade através de sua existência, suas lutas e de suas culturas musicais. Nas próximas postagens iremos nos debruçar sobre algumas dessas culturas musicais, como o Konpa-Dirèk, a Mizik Rasin, a Mizik Angaje e a Mizik Twoubadou. Viva a revolução haitiana!

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E continuamos nossa investigação da diáspora haitiana nos debruçando sobre algumas das culturas musicais que são uma parte fundamental da própria identidade haitiana e de seus movimentos diaspóricos. Vejamos o que o etnomusicólogo Caetano Maschio Santos nos conta sobre o Konpa-Dirèk, a Mizik Rasin, a Mizik Angaje e a Mizik Twoubadou!

 

Konpa/Konpa-dirèk [VÍDEO 1]: gênero de música popular haitiana especialmente associado à dança em casal. Surgido na década de 1950 através da alteração da célula rítmica do merengue realizada pelo saxofonista Nemours Jean-Baptiste, esteve durante muito tempo associada ao regime e François Duvalier [mais conhecido como Papa-Doc] como símbolo musical da identidade nacional promovida pela ditadura. Artista do vídeo: Gazzman Couler

Mizik rasin [VÍDEO 2]: “música de raiz”, termo surgido de forma mais definida no final da década de 1970 para caracterizar as músicas que se voltavam à cultura popular afro-haitiana e a um modo de vida rural e campesino. Artista do vídeo: Boukman  Eksperyans

​​​​​​​​​​​​​​Mizik angaje [VÍDEO 3]: tal termo identifica a música popular haitiana produzida a partir do final da década de 1970 que se utilizava de elementos da cultura popular afro-haitiana e veiculava sentimentos de oposição à ditadura duvalierista e à forte dominação e segregação de classe presente na sociedade Haitiana. Artista do vídeo: Manno Charlemagne

Mizik twoubadou [VÍDEO 4]: segundo Manuel & Largey, os twoubadou podem ser atualmente encontrados em restaurantes, nas praias e mesmo em recepções nos aeroportos haitianos, performatizando canções populares, folclóricas ou mesmo o mais recente sucesso norte-americano, denotando, portanto, uma abertura cosmopolita a repertórios estrangeiros (MANUEL & LARGEY, 2016, p. 156). As origens desse gênero musical estão intimamente associadas à migração laboral de haitianos no séc. XIX.  Artista do vídeo: Fidel Troubadou

Para finalizar, no primeiro ponto de chegada e de investigação da diáspora haitiana, apresentamos nosso arranjo de “Tipa Tipa” da banda de Muzik Rasin, Boukman Eksperyans! [VÍDEO 5] Com mais de quarenta anos de trajetória, o nome da banda vem da junção de duas palavras da língua crioula Haitiana: O “Boukman” é uma homenagem a um dos líderes da Revolução Haitiana e Houngan da religião Vodu, Dutty Boukman e a palavra “Eksperians” significa “experiência”, uma referência ao grupo de Rock Psicodélico The Jimi Hendrix Experience.

Fonte: SANTOS, Caetano Maschio. Ayisyen kite lakay (Haitianos deixam suas casas): um estudo etnomusicológico do musicar de artistas imigrantes haitianos no estado do Rio Grande do Sul. Dissertação de Mestrado, 2018.

Pedro Fadel

Bolsista PROATEC

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